Terceiro dia: cruzando para o Chile

Após um belíssimo café da manhã, deixei o hotel em Villa Pehuenia e parti em direção ao Chile, pois estava muito próximo da fronteira conhecida como Paso de Icalma. Apesar do verão, nesse dia amanheceu muito frio e fui obrigado a colocar o único moleton mais grosso que havia levado.  A passagem pela fronteira é muito simples, todavia um tanto burocrática. Primeiro é necessário fazer os trâmites de imigração e alfândega do lado argentino. Tudo foi facilitado devido à perfeita documentação fornecida pela Moto Rent Patagonia em relação à motocicleta. Bastou apresentar o cartão de propriedade da moto, o contrato de locação, a CNH brasileira, o passaporte e pronto!

Dica: apesar de ser possível viajar com Carteira de Identidade (RG) pelo Mercosul, o passaporte facilita as coisas. Até mesmo porque o Chile não pertence ao Mercosul.

Outra dica: sempre que apresentar-se para as “autoridades”, repita: “Buenos dias, por favor, si señor, muchas gracias, hasta luego!”. Sempre que possível.  Isso facilita uma barbaridade para acelerar as coisas; podem acreditar!

Depois de cumprir a burocracia no lado Argentino, roda-se cerca de um quilômetro para repetir o procedimento do lado Chileno, onde o posto de fronteira é bem melhor estruturado e organizado.

Logo em seguida, fiz uma parada em Icalma. Comprei água, biscoitos e aproveitei para fazer câmbio de moeda, pois apesar de estar pagando quase tudo com cartão de crédito, sempre é bom tem algum troco na moeda local para alguma eventualidade. Meu destino previsto era seguir até a região de Lonquimay passando por dentro de florestas e parques nacionais no Chile, para após uma grande volta, terminar o dia em Melipeuco. Tudo correu bem até perto do meio dia. Porém, depois de um longo trajeto pela R-955 quase chegando em Punta Negra fui informado que haviam “protestas” na região e que manifestantes haviam interrompido a rodovia. Ninguém passava por lá e não havia previsão de liberação do caminho.

Eu tinha duas opções: aguardar a liberação ou fazer o caminho de volta e tentar achar outra maneira de chegar em Melipeuco. Optei pela segunda alternativa e fiz todo o trajeto (cerca de  100km) para voltar a Icalma.

Neste ponto, o meu desejo de fazer um passeio “raiz” tornou-se realidade. Como eu havia dito, sem usar GPS, eu me perdi “como homem de verdade” (risos).  Como não pretendia retornar por aquele caminho, não prestei muita atenção no trajeto durante a ida. Quando tentei retornar para Icalma devo ter deixado de entrar em alguma estrada e segui pelo caminho errado. Como as estradas não são sinalizadas, eu não percebi de imediato o engano. Só depois de uns 30 minutos é que me dei conta do erro. Aí foi outra aventura achar o caminho de volta, pois não havia ninguém por perto para perguntar o caminho de volta. Até que depois de rodar alguns minutos no meio das montanhas encontrei um agricultor que só sabia me dizer: “Usted estas muy lejos” (você está muito longe). Bem ele apontou a direção sul e disse que era por ali. Depois de rodar mais alguns minutos, consegui achar o caminho de volta para Icalma.

A essa altura do dia, eu já não poderia errar mais, senão não chegaria a Melipeuco para o pernoite. Escolhi o caminho que passa por dentro da Reserva Nacional da China Muerta e fui em frente. Minha única preocupação era o combustível, pois já havia rodado uns 200 km nesse dia e apesar de ter sido informado que a XTZ250 poderia rodar 400 km com um tanque de combustível, eu não queria testar se isso era possível. E para minha falta de sorte, não havia combustível em Icalma.

O trajeto passando pela China Muerta é lindíssimo, porém muito perigoso. De Icalma até Melipeuco é uma descida de serra no rípio. Para ajudar, começou a chover bem forte. Minha sorte foi que eu percebi que isso iria acontecer e um pouco antes coloquei a proteção de chuva da roupa de pilotar, que havia levado. Foi o que me salvou. Choveu muito e esfriou bastante. Caso eu não estivesse preparado poderia ter passado muito frio e/ou ficar resfriado. Nada agradável durante uma viagem dessas.

Ao final do dia, cheguei em Melipeuco no Chile. A cidade fica ao sopé do Vulcão Llaima e tem algumas partes cobertas por restos de uma das erupções vulcânicas do passado. O vulcão com seu pico nevado são visíveis em praticamente qualquer lugar da cidade. Mais uma vez o pessoal da MRP foi muito feliz em escolher o local para o pernoite, que foi realizado numa pousada fora da cidade muito próxima do Salto Truful-Truful, uma cachoeira exuberante. Detalhe: a pousada é em formato de domo geodésico (quem não conhece, basta dar uma olhada no Google) e é atendida pelos proprietários que são guias de turismo de aventura. Gente muito legal, que adora conversar! Como a pousada não oferecia jantar, aproveitei para conhecer o centro da cidade e degustar um dos pratos típicos da região, acompanhado por uma excelente cerveja artesanal produzida por ali. Fim do dia que, apesar dos percalços, foi perfeito!

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